Designer de personagens de JoJo's Bizarre Adventure fala sobre decepção com a indústria de animes
Ainda há pessoas trabalhando na indústria que precisam da ajuda financeira dos pais

Em meio a algumas polêmicas que estão acontecendo no Japão no momento (em relação a indústria de animes), funcionários da área estão discutindo e falando sobre seus sentimentos e pensamentos nas mídias sociais. Terumi Nishii, designer de personagens de JoJo's Bizarre Adventure: Diamond Is Unbreakable e Cavaleiros do Zodíaco: Saint Seiya, compartilhou seus pensamentos (em inglês) no seu Twitter pessoal na segunda-feira. Inclusive alertando às pessoas sobre o que esperam ao entrar na indústria de animes devido às más condições de trabalho.
No matter how much you like anime, it is not advisable to come to Japan and participate in anime work. Because the animation industry is usually overworked????
— NISHII_terumi (@Nishiiterumi1) 22 de abril de 2019
"Não importa o quanto você gosta de animes, não é aconselhável vir ao Japão para participar deste tipo de trabalho, porque a indústria de animação é geralmente sobrecarregada de trabalho."
Nishii disse que está desapontada com a indústria de animes e também falou que não há royalties ou participação nos lucros para designer de personagens após seus projetos. Ela atribuiu isso à cultura japonesa. Ela inclusive recomendou que animadores japoneses procurem trabalho em companhias estrangeiras.
Japanese animation is maintained only by the feelings that the creators “like anime”. However, with the increase of the number of works in recent years, some people have broken mind and body.
— NISHII_terumi (@Nishiiterumi1) 22 de abril de 2019
"A animação japonesa é mantida apenas pelos sentimentos de que os criadores gostam de animes. No entanto, com o aumento de obras nos últimos anos, algumas pessoas acabaram com problemas físicos e mentais."
A desginer também falou que muitos animadores vivem com ajuda de custo de seus próprios pais.
The environment is the most difficult for beginners. There is almost no employee system. However, there is no time to go to bed. Everyone works for a long time and finally earns 80,000 yen. Many are supported by parents. Make an animation using the creator's parent's money.
— NISHII_terumi (@Nishiiterumi1) 22 de abril de 2019
"O ambiente é muito difícil para novatos. Praticamente não há sistema de trabalho para funcionários. No entanto, não há hora de ir dormir. Muita gente trabalha por muito tempo e ganha 80 mil ienes*. E vários ainda recebem ajuda dos pais. Fazem animações usando o dinheiro dos pais dos criadores."
*80 mil ienes é cerca de 2700 reais.
A organização sem fins lucrativos AEYAC fez uma pesquisa em 2017, conseguindo o resultado de que mais de metade dos animadores recebe assistência financeira da família, além do salário. A média de idade das pessoas que responderam a pesquisa era de mais ou menos 23 anos, com aproximadamente 1 ano e 5 meses de experiência de trabalho na indústria. A maioria não vivia na casa dos pais, mas ainda recebia dinheiro deles. Alguns também estavam endividados devido a financiamentos estudantis.
O primeiro salário de Nishii foi de 2800 ienes (98 reais). Após um ano de trabalho, seu salário aumentou de 60 mil para 100 mil ienes por mês (2100 - 3500 reais).
"O salário mínimo de Tóquio é 985 ienes por hora (34 reais) por hora, mas as coisas não são bem assim. Muitos dependem do dinheiro dos pais", disse. Ela também criticou a concepção que existe lá de que animadores amam seu trabalho, e que por isso não deveriam reclamar de salários baixos.
A artista falou um pouco mais como se sente sobre o futuro: "Acho que temos que mudar de gerações. Para fazer isso, acho que precisamos trabalhar com pessoal estrangeiro. Esperamos que chegue o dia em que nossos trabalhadores da área criativa sejam valorizados como merecem."
A Japan Animation Creators Association (JaniCA) soltou um relatório sobre as atuais condições de trabalho dos animadores, o que revelou que os jovens continuam a enfrentar condições de trabalho mais duras na indústria dos animes, bem como as condições aparentaram melhorar para os mais velhos. Jovens entre 20 e 24 anos seguem mal remunerados. Sua renda média anual é de 55 mil reais, que é 34 mil reais anuais a menos do que a média para este grupo etário, de acordo com a Agência Nacional de Impostos.
Fonte: Twitter da Terumi Nishii via ANN