[Resenha] In/Spectre cumpre com excelência a tarefa de fugir das convenções dos animes de mistério

Kyou Shirodaira traz seu estilo único para In/Spectre

Um dos meus animes favoritos da década passada foi Blast of Tempest (2012). Inspirado fortemente em Hamlet e A Tempestade, de Shakespeare, foi um anime de fantasia épica dramático (e meio grotesco) sobre comédias românticas e o fim do mundo. A série era completamente imprevisível, e sempre seguia o caminho pitorescamente mais convincente, fazendo com esmero a tarefa de chatear e encantar o público ao mesmo tempo. Na liderança, em vez de um herói shonen entusiasmado, você tinha um sociopata niilista que era impulsionado pela vingança. Seu centro emocional era de um jovem reprimido, sofrendo de um trauma e mantendo todos longe dele, e as duas protagonistas do sexo feminino estavam mortas e presas, passando a série inteira brigando por controle.

 


E aí eu ouvi que o mesmo escritor, Kyou Shirodaira, estaria escrevendo In/Spectre, que se tornou facilmente meu anime mais esperado para essa temporada. Agora, dois episódios depois, vamos dar uma olhada por que Shirodaira é o melhor no que faz!

 

 

Vamos começar com nossos dois protagonistas: primeiro, somos apresentados à Kotoko Iwanaga, uma jovem moça com um chapéu e uma bengala. A história logo depois é algo que já vimos: ela reivindica seu domínio sobre o garoto protagonista, Kuro. Primeiro, ela lembra o rapaz que ele deve a ela por ter salvado sua vida, então revela que conseguiu informações sobre a vida pessoal dele com o pessoal do hospital, demonstrando sua crueldade. Finalmente, ela declara seu interesse romântico por ele. Somente após ser rejeitada que ela volta a se interessar pelos assuntos sobre yokais.... ou será que isso era tudo uma estratégia para pegá-lo desprevenido desde o início? Ela conta para ele que quando era mais nova trocou seu olho e uma perna com yokais para se tornar seu deus da sabedoria, mas "sabedoria" para yokais parece ser uma inteligência mundana, "de rua". Kotoko é assertiva, egoísta e não tem medo de se envolver em combates (que acaba acontecendo logo depois no episódio). Ela não é nada como parecia ser no início do episódio. 

 

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Kuro, a princípio, parece também ser aquele protagonista padrão de anime: amigável, fofinho, fácil de se conquistar. Ele parece ser do tipo que fica tentando animar e fazer gracinhas com Kotoko, até que as coisas começam a ficar sérias e ele finalmente se posiciona, revelando sua coragem interior. E isso não está muito longe do acontece, exceto que sua personalidade "amistosa" é apenas fingimento. Kuro esteve familiarizado com yokais durante maior parte de sua vida, e ele pode vê-los. Ele entende o que a Kotoko está querendo saber muito antes de nós, espectadores, entendermos. Sua personalidade amistosa e fofa talvez teria funcionado em alguém menos determinado que Kotoko, mas não era o dia dele. A grande batalha com o monstro na biblioteca ao fim do episódio 1 normalmente seria o suficiente para juntá-los, mas Kuro ainda está meio cético quanto a isso. No episódio 2, ele ainda decide vigiar o que está rolando com a serpente gigante antes de se unir de alguma forma com Kotoko. Koro pareceu descuidado o tempo todo, quando na verdade ele é invencível. 

 

 

Ao reassistir o primeiro episódio, após conhecer a verdadeira personalidade dos personagens, você consegue ver as armadilhas que Shirodaira deixou. Por exemplo, Kotoko se apresentando para ele com a carta na manga que ela havia o salvado. Ele não se lembra, mostrando sua natureza irresponsável e despreocupada. Só que não é bem assim. Efetivamente, Kuro é imortal, então Kotoko (tecnicamente) não o ajudou de forma alguma. O motivo que ele não lembra não é porque Kuro é ingrato pelo que aconteceu, mas porque ele não considerou aquilo um perigo de forma alguma, logo, não deve nada a Kotoko. A primeira "moeda" na negociação de Kotoko para puxar assunto falhou, por isso Kuro foi tão displicente.

 

 

Outra reviravolta muito legal é o uso da frase "Então você só queria meu corpo?". Isso é dito por Kuro na cena da biblioteca. Tal frase normalmente é dita por personagens femininas, então há uma pequena brincadeira na inversão de papéis aí. Mas há outro mal-entendido aqui: sabemos agora que Kuro afasta yokais por causa de sua presença aterrorizante. Portanto, também faz sentido que Kotoko queira usar esse efeito repulsivo que ele tem para assustar o monstro da biblioteca. Mas a raiva de Kuro tem outra vantagem, porque ele entende o terceiro significado. Ele sabe que sua carne é venenosa para yokais, e acredita que Kotoko tinha isso em mente o tempo todo. Uma piadinha simples e outra descartável na maioria dos animes são peças cruciais na maneira como os personagens se entendem e se relacionam entre si.

 

O episódio 2 abre muitos caminhos promissores para a história se desenvolver, com Kotoko agindo quase como uma terapeuta ou assistente social dos yokais. Seu papel não é tanto negociar tréguas entre homens e os espectros, mas sim ajudá-los a entender por que as pessoas são tão ilógicas. Não vejo a hora de ver que caminho essa série vai seguir!


Quais são os seus momentos favoritos de In/Spectre

Conte para nós nos comentários!

 


Este texto foi escrito originalmente por Thomas Zoth. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui.

A tradução para o português brasileiro foi feita por Skarz.

 

©KCK/I
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